Uma coisa eu tinha que ter em mente, eu tinha que estar preparada pra tudo. Em estado de alerta.
- Mas antes, - falei fazendo com que Damon parasse o movimento de descer do veiculo. – Vamos caçar! – falei.
Ele abriu um sorriso debochado.
- Por acaso você tem uma virgem, esperando para o sacrifício, dentro do seu porta-malas?- perguntou irônico.
Girei os olhos. – Não! Você vai se alimentar do meu jeito hoje!- falei saindo do carro.
- Mas nem pensar! – ele disse saindo também.
– Você precisa caçar, e eu não vou permitir que você ataque ninguém! – coloquei minhas mãos na cintura. – É assim, ou senão não é!
Damon se aproximou sério, depois um sorriso debochado brincou em seus lábios.
– Você é mandona, hein? Mas eu gosto disso!- ele falou sorrindo. – Ok! Sempre estou aberto a novas experiências! –disse irônico, sinalizando com a mão que eu fosse à frente.
Eu espreitava de cima de uma árvore, um grupo grande de veados que pastavam tranquilamente perto do rio. Damon estava em outro tronco, encostado displicentemente em um galho. Os braços cruzados na altura do peito. Me observando.
Tentei me focalizar totalmente na minha presa, esquecendo de Damon na árvore ao lado. Saltei em cima do maior macho, em segundos ele estava desmaiado. O sangue quente deslizou pela minha garganta, assim que minhas presas furaram sua pele.
Damon saltou logo em seguida, atacando uma das fêmeas. Eu tive que me segurar para não rir das suas caretas, enquanto ele drenava o animal.
- Credo! – ele disse, depois de largar o corpo inerte de sua vitima no chão. – Que gosto horrível! E o pior de tudo, o cheiro!
- Você se acostuma! – falei.
Ele gargalhou. – Acho difícil acreditar! – Damon se aproximou. – Você acha que eu trocaria o doce sangue de uma linda donzela, por o gosto horrível do sangue de um animal fedorento?
Aquilo me enojou.
- Você que sabe Damon. – respondi seca.
Ele virou a cabeça me analisando. Seus olhos se estreitaram. – Você considera aquele garoto melhor do que eu por causa disso! – não era uma pergunta, mas eu tinha a resposta.
– Isso é só uma das qualidades dele!- respondi.
Damon segurou meu braço, me fazendo estreitar os olhos para ele. Senti minhas mãos formigarem.
- Quando você vai perceber que eu sou certo para você?- seus olhos prendiam os meus intensamente.
- Damon... – disse me afastando dele. - Eu preciso encontrar Victória!
oOo
Damon me levou até um campo aberto de vários hectares. Perto do centro, mais próximo das árvores do lado leste, havia o que parecia ser uma gigantesca casa de doces. Pintada de rosa, verde e branco, era elaborada a ponto de parecer ridícula, com acabamento meticuloso e adornos exuberantes em todos os espaços disponíveis.
Paramos alguns bons metros de distância, em cima de uma árvore. Nós observávamos a casa, até que Damon indicou algumas árvores mais longe um casal de vampiros, também observando.
Movimentei a cabeça em uma pergunta muda “ Quem será?” Damon encolheu os ombros indicando que também não fazia idéia. Os vampiros pareciam bem jovens, um garoto e uma garota que não passavam de dezessete anos, estavam de mãos dadas, olhando a estranha construção. Damon fechou os olhos se concentrando. Movimentei novamente a cabeça perguntando o que ele estava fazendo. “Estamos seguros!” – ele sussurrou tão baixo que mesmo eu mal escutei. Com seus truques mentais, Damon havia nos disfarçado.
Me concentrei tentando ouvir a conversa que vinha de dentro da pequena casa.
- Quantos? – Victória disse.
- Vinte e dois – a voz de um garoto respondeu. - Pensei ter perdido mais dois para o sol, mas um dos meus garotos mais velhos é... obediente – ele prosseguiu. - Ele tem um lugar, um esconderijo subterrâneo, e se escondeu com a mais nova.
Eu olhei para Damon. Vinte e dói, o que? Damon também não parecia ter a resposta. Seriam os recém criados? Eu não sabia quanto Damon estava por dentro desse assunto.
- Tem certeza?- Victória perguntou, me chamando a atenção novamente para a casa.
- Sim, ele é um bom garoto. Tenho certeza. – respondeu o garoto, ele parecia mais tenso, com medo até.
- Vinte e dois é um bom número – ela murmurou, e a tensão pareceu se dissolver. – Como o comportamento deles está evoluindo? Ainda seguem os padrões normais?
- Sim – respondeu o garoto. Eu tinha a certeza que era do exército de recém criados que ela falava. – Tudo o que me disse para fazer funcionou impecavelmente. Eles não pensam, simplesmente agem como já estão acostumados. Sempre consigo distraí-los com a sede. Isso os mantém sob controle.
- Você trabalhou muito bem – Victória elogiou, e depois ouvimos o barulho de um beijo. – Vinte e dois!
- Chegou a hora? – o garoto perguntou ansioso.
A resposta foi rápida e contundente como uma bofetada. - Não! Ainda não decidi quando.
- Não entendo. – ele respondeu.
- Não precisa entender. É suficiente que saiba que nossos inimigos têm grandes poderes. Todo o cuidado é pouco.
Dei um passo em direção a casa. Eu iria acabar com aquilo naquela hora, mas Damon me segurou pelo braço.
- Temos que descobrir onde os recém criados estão! – ele disse.
Então Damon sabia!
- Decisões, decisões – Victória murmurou. – Ainda não. Talvez alguns mais, só para ter certeza.
- Alguns mais pode, no final, reduzir nosso número – o garoto disse hesitante. Ele notoriamente tinha medo de Victória. – Há sempre uma instabilidade quando um novo grupo é introduzido.
- É verdade – Victória concordou.
Um vento trouxe um cheiro muito conhecido, que fez minha pele formigar. Do outro lado da campina, Felix, Demitri, Jane e Alec, se aproximaram da casa. Damon sorriu debochado. “Seus amiguinhos chegaram!” ele sussurrou. Mas eu não achei graça. Eu queria acabar com toda aquela palhaçada logo.
Eu tinha certeza que Alec não havia falado nada sobre seu encontro comigo. Jane teria torturado o próprio irmão se sequer desconfiasse, e Alec morria de medo da irmã.
- Não se incomodem – Jane disse assim que entrou na casa. Notei que tanto Victória quanto o garoto se calaram.
– Creio que sabem quem somos, por isso deve saber também que é inútil tentar nos surpreender. Ou se esconder. Ou lutar. Ou fugir. – a voz ameaçadora de Felix ecoou pela casa.
- Relaxem – instruiu Jane. – Não viemos para destruir vocês. Ainda.
Claro que não! Eles precisam deles para o serviço sujo! pensei. Pelo menos por enquanto!
Eu gostaria de saber até onde Aro estava consciente dessa história. Ele sabia que eu pertencia ao grupo que eles queriam tanto destruir? Aro foi muito tempo como um pai para mim. Pelo menos eu acreditei nisso, e pensar que ele me quisesse a minha morte, apesar de saber de sua real natureza cruel e gananciosa, me magoava bastante.
- Se não está aqui para matar, então... o que quer? – perguntou Victória.
- Queremos se você já se decidiu – Jane explicou. – A situação já se estendeu por demais.
- Ainda não podemos agir. Você sabe que é complicado. – disse Victória. - Eu ainda não decidi – ela revelou. Depois acrescentou mais lentamente, relutante. – Atacar. Não decidi fazer algo com eles.
– Infelizmente, seu período de deliberação chegou ao fim. Você precisa decidir, agora o que vai fazer com seu pequeno exército. – Jane disse seca. – Caso contrário, será nosso dever puni-la como exige a lei. Esse adiantamento, mesmo breve, é um problema para mim. Não é assim que atuamos. Sugiro que nos dê todas as garantias que puder... e depressa.
- Vamos agir assim que for possível – Victória disse. – Há muito por fazer. Imagino que queira nosso sucesso. Então, preciso de algum tempo para treiná-lo... orientá-los... alimentá-los! - Houve uma pausa breve.
- Cinco dias. Voltaremos em cinco dias. E não há pedra sob a qual poderá se esconder ou velocidade na qual poderá fugir para se salvar. Se não tiver atacado quando voltarmos, você vai queimar. – esse era Alec. Só a voz dele me enojava.
- E se eu já tiver atacado? – Victória perguntou abalada.
- Veremos – respondeu Jane. – Suponho que tudo dependa de seu grau de sucesso. Trabalhe e se esforce para nos agradar.
- Sim – Victória grunhiu.
Um segundo depois os quatro Volturis saíram silenciosamente. Damon me olhou e sorriu de lado.
“Chega!” – sussurrei.
Damon levantou o dedo, indicando que eu esperasse. Girei os olhos impaciente.
- Bem – Victória sussurrou dentro da casa – , agora eles sabem.
Alice! eu sabia que era dela que Victória estava falando.
- Isso não importa. Estamos em maior número... – o garoto disse.
- Qualquer aviso importa! – Victória gritou impaciente.– Há muito por fazer. Só cinco dias! – Ela gemeu. – Chega de confusão. Você começa esta noite.
Um frio desceu pela minha espinha.
- Não vou desapontá-la! – o garoto prometeu.
No mesmo instante, o casal de vampiros que observavam do outro lado começou a fugir.
- Eles são recém- criados! – sussurrei. Essa era a melhor oportunidade para descobrir onde eles se escondiam.
- Você os segue! Eu vou tentar arrancar alguma coisa de Victória. – Damon disse.
E agora? Eu podia confiar em Damon?
Eu não tinha muito tempo para pensar, subi na árvore mais próxima seguindo os dois garotos há uma certa distância. Eles voam entre as árvores até que pararam em um certo ponto. O cheiro de um deles estava bem marcado.
Também parei.
- Siga o plano, Bree. Direi a ele o que planejei. Ainda não estamos perto do amanhecer, mas vai ter que ser assim. Se ele não acreditar em mim... – o garoto vampiro de cabelos negros e crespos disse para a vampira. – Ele agora tem outras coisas com que se preocupar, coisas mais importantes que a minha imaginação fértil. Talvez esteja mais propenso a ouvir agora. Parece que precisaremos de toda ajuda que conseguirmos, e poder andar por aí à luz do dia não será nada mal.
- Diego... – ela disse amedrontada. Seus olhos carmin olhavam para ele intensamente.
Então seus nomes eram Diego e Bree!
Então os dois se beijaram e se separaram.
Bem, o que eu faria a esse respeito? Mordi o lábio decidindo a quem seguir. Mas se Diego chegasse em Victória, seriam três vampiros contra Damon. Se bem que eu tinha certeza que Damon se viraria sozinho.
Mesmo assim decidi seguir o garoto! Ele já estava a uma boa distância indo correndo pelo solo, enquanto eu o seguia pelas árvores, somente seu cheiro como rastro.
Quando me aproximei Victória, seu comparsa e Damon, não pareciam contentes em ver o garoto ali. Eles haviam o cercado. Tentei me camuflar o melhor possível em meio os galhos, alguns bons metros de distancia da casa onde eles estavam.
- Quem mais sabe?- Victória perguntou a Diego.
- Ninguém!- Diego respondeu.
Damon sussurrou algo no ouvido de Victória e ela sorriu.
- Ninguém, é? – eu não podia acreditar que Damon entregaria o garoto. – Faça o falar!- Victória ordenou ao seu comparsa.
Engoli em seco, quando o braço de Diego foi arrancado e seus gritos se espalharam pela floresta.