Consequências Capítulo 26

Capítulo 26




A penumbra do apartamento não me incomodava, mas o cheiro forte de bolor era insuportável. Olhei em volta vendo a bagunça e o caos que se instalava naquele lugar. Não havia quase móveis, e os que haviam estavam destruídos. Um movimento mínimo visto pelos cantos dos olhos me chamou a atenção. Havia uma poltrona em um canto da sala onde Damon estava sentado de cabeça baixa.


– Damon?- chamei me aproximando devagar. – Você está bem? – perguntei baixinho parando ao lado dele. Não era só o apartamento que estava em estado calamitoso. Damon poderia ser confundido com um morador de rua. O cabelo sujo e desgrenhado, as roupas encardidas e amarrotadas, a barba por fazer. Totalmente diferente do Damon que eu conhecia. Ele levantou a cabeça que estava apoiada nas mãos.


– Que você quer?- ele perguntou raivoso me olhando de soslaio. Os cotovelos apoiados nos joelhos, fazendo com que suas costas se projetassem para frente.


Me afastei rapidamente. Nunca me passou pela cabeça que Damon pudesse me tratar assim. Eu já o vi sendo irônico, debochado e irritante, mas nunca havia me falado em tom de raiva.


– Desculpa! – falei. – Eu não devia ter vindo mesmo! – disse me virando para saída. Realmente procurar Damon não havia sido uma boa idéia.


– Não! Espera! – Damon se materializou em minha frente. Seus olhos totalmente negros passearam pelo meu rosto.


– O que você tem?- perguntei colocando minha mão em seu rosto impulsivamente. Ele fechou os olhos enquanto meus dedos tocavam de leve as manchas arroxeadas em baixo dos seus olhos. – Você está com sede! – afirmei. – Porque não está se alimentando?- perguntei.


Eu estava louca mesmo. Estava preocupada porque Damon não estava se alimentando, sabendo o que isso significava. Recolhi a mão.


Damon suspirou e abriu os olhos.


– Você disse que precisava de mim?- perguntou visivelmente mais calmo. – Vai me dizer que quer me convidar para padrinho do seu casamento com aquele garoto? – o sorriso irônico voltou ao seu rosto.


Girei os olhos. – Claro que não, mas... – e se Damon estivesse metido nisso também? E se ele também fizesse parte do plano? Antes de contar a ele, eu precisava ter certeza!


– Mas...? – ele instigou que eu continuasse.


– Preciso falar com Victória, você sabe onde ela anda?- perguntei cruzando os braços assim evitando que eu o tocasse novamente.


Damon juntou as sobrancelhas. – Que Victória? – ele sorriu. Estreitei os olhos impaciente. – Ok, ok! Só que eu não sabia que vocês eram... amigas! – ele disse sorrindo.


– Sabe ou não?– perguntei sem paciência. – Só responda a verdade, ok?


Ele me olhou me analisando. – Não! – respondeu. – E eu nunca menti para você! – sorriu. – Mas agora eu estou curioso, o que você quer com Victória?


– Acredito que não seja do seu interesse!- respondi. Não iria falar a verdade sem antes saber com certeza se ele estava metido nisso ou não.


– Gata, tudo que faz respeito a você me interessa! – falou sorrindo.


Eu tinha que acreditar, tinha mesmo que confiar nele. Não podia ir até Edward, não enquanto a vergonha do que tinha feito ainda me remoia por dentro. Não tinha coragem de enfrentá–lo. Não ainda!


– Damon, eu preciso mesmo saber onde anda a Victória! – falei.


Ele me olhou sério por alguns instantes, talvez analisando a urgência da minha voz.


– Ok!- respondeu. – Só vou tomar um banho!


–O que?- perguntei erguendo as sobrancelhas. – Não Damon, só quero que me diga...


– Eu vou te levar lá! – ele respondeu.


– Não! Não vai!


– É isso ou nada, gata! – ele disse decidido.


– Ok! – disse vencida. – Você me leva!


– Só um banho!- ele disse sorrido, segurou meu queixo por alguns segundos, olhando fixamente para minha boca e depois saiu em direção ao banheiro.


Deixei meu corpo cair na poltrona onde antes Damon estava. Afundei o rosto nas mãos antes de sentir meu celular vibrando novamente.


Edward call, dizia o visor.


Eu não podia deixá-lo sem resposta, mas também não podia atender. O que eu podia dizer? O que eu podia falar para Edward? Não! Eu ainda não podia falar com ele agora!


Mas eu tinha que falar!


– Oi? – falei assim que apertei o send e coloquei o celular no ouvido.


– ! - a voz aliviada de Edward fez com que um bolo enorme se formasse em minha garganta e meus olhos queimassem pedindo por lágrimas. – Você está bem? – ele perguntou. Fechei os olhos e mordi o lábio. – Porque não fala comigo, amor? Está machucada? Onde você está? - uma enxurrada de perguntas.


– Estou bem! – respondi tentando manter minha voz firme. – Estou bem, Edward!


– Porque não atendeu antes? O que está acontecendo? – ele perguntou notoriamente nervoso.


– Edward, escute! – respirei fundo. Pelo jeito Alice havia conseguido esconder as visões de Edward. – Logo eu irei para sua casa, ok? Estou só resolvendo algumas questões. Me espere lá!


– Mas …


- Eu te explico tudo quando chegar ai. Não se preocupe!


– Ok!– ele disse em um tom meio desconfiado. – Não esquece que eu te amo!


Respirei fundo.


– Você! Não se esqueça que eu te amo! Muito! – respondi e desliguei o celular.


– Problemas com o noivado?- a voz debochada de Damon me fez abrir os olhos. Ele estava nu e secava os cabelos negros com uma toalha vermelha. Os braços dobrados movimentando a toalha na cabeça faziam os músculos se destacarem na pele branca.


Gotas deslizavam pelo seu peitoral, escorrendo pelo abdômen até chegar nos músculos pélvicos que levavam até... Desviei os olhos para o chão.


– Se vista de uma vez e vamos logo! –falei seca. Me levantei o encarando séria, se ele achava que iria me perturbar parando nu na minha frente, ele estava enganado! Pelo menos um pouco!


Damon sorriu. – Como você quiser, madame! – ele fez uma reverência, antes de voltar novamente para o quarto. Em poucos segundos estava de volta. Vestindo preto como sempre.


Ele se aproximou e de repente riu e um arrepio desceu até meu estômago. Meu Deus ele era lindo! Como sempre o riso apenas durou um instante, mas deixou um resquício em seus olhos mesmo quando seus lábios voltaram a ficar sombrios.


Mas dessa vez o humor daqueles olhos negros de sede, desapareceram. Eles estavam mais escuros e insondáveis, e os lábios de Damon formavam uma linha reta.


Ele estava tão perto. Perto o bastante para sentir sua pele tocando a minha. Eu podia sentir seu cheiro de colônia e o couro da jaqueta. E os olhos ainda estavam fixos nos meus. Eu não conseguia me desviar deles. Olhos negros como a meia–noite, as pupilas dilatadas como a de um gato. Eles encheram minha visão enquanto ele se inclinava, tombando a cabeça para mais perto da minha. Senti meus próprios olhos semicerrarem, perdendo o foco. Senti a minha cabeça tombar para trás, os meus lábios se separarem.


Não! Bem a tempo, virei a cabeça de lado. Parecia que tinha sido puxada da beira de um precipício. O que estou fazendo? Pensei chocada. Eu estava prestes a deixar Damon me beijar!


Mas o pior não era isso. Por que por aqueles poucos minutos, aconteceu uma coisa inacreditável. Por naqueles poucos minutos, eu me esquecera de Edward!


Respirei fundo tentando recobrar o juízo.


– Vamos logo!- ordenei.


oOo


A noite já tinha caído em Forks quando acelerava o Porshe de Stefan, correndo pelas estrada com Damon ao meu lado em direção a Seattle. O fato dele saber onde Victória se escondia não tinha ficado muito claro para mim. Ele havia me dito que já havia passado algumas noites nesse local. O sorriso dele me dizia que o que ele fazia lá não devia me interessar nenhum pouco. Mas no fundo uma pontada na boca do estômago, me mostrava que me incomodava sim o que ele a visitasse com alguma freqüência.


Alguns quilômetros antes da entrada de Seattle, Damon sinalizou para que eu pegasse uma estrada secundária até parar perto de algumas árvores.


– Agora nós vamos a pé! – ele disse sério, indicando a floresta negra à nossa frente com o queixo.


Um arrepio desceu pela minha espinha. E se aquilo fosse uma armadilha?

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